Sabemos que as campanhas eleitorais estám cada vez mais dominadas polo marketing e que a tendência leva a centrar as mensagens nas pessoas mais que nos projetos, e isto às vezes dificulta dar debates políticos de fundo. Porém, nem as urgências eleitorais nem as tácticas discursivas que pareçam triunfar em cada momento devem distraer-nos nen fazer-nos esquecer o fundamental: estamos ante umha oportunidade inédita para pôr freio ao programa oligárquico e espanholizador que no nosso país representa o atual governo do PP, dando passo a umha nova fase em que as instituiçons autonómicas estejam lideradas polo soberanismo galego.
Desde o nosso espaço político sempre entendémos a presença nas instituiçons (e nos governos) como um meio para o avance do projeto político que representa o BNG e nom como um fim em si próprio. No caso da Junta, ocupar o governo é imprescindível para reverter os retrocessos nos direitos sociais e nacionais provocados polos governos da direita espanholista, e por suposto é necessário para desenvolver umha gestom muito melhor, acabando de vez com a corrupçom, o caciquismo e as políticas clientelares. Mas além desses mínimos que damos por feitos, pensamos que cumpre ocupar essa posiçom para implementar um programa realmente transformador, tanto no mais imediato como no mais estratégico.
Sem vontade de sermos exaustivas, diremos que cumpre inciar umha ambiciosa agenda de regaleguizaçom em todos os ámbitos (particularmente no ensino), reforçar a presença pública em todos os sectores da economia, reverter a degradaçom da sanidade e do ensino, planificar umha política industrial digna de tal nome, acabar com este modelo turístico precarizador, frear a ofensiva depredadora das eléctricas, governar realmente em defesa do território e do ambiente e nom sacrificando-o aos interesses do capital, avançar em politicas feministas transformadoras, colocar os meios públicos ao serviço do povo… e também contribuir, desde a instituiçom, tanto à construçom de poder popular como a debilitar muitos poderes fácticos que hoje tenhem muita influência, nomeadamente os económicos e en especial os seus tentáculos mediáticos.
O extenso e ambicioso programa eleitoral do BNG detalha muitas destas medidas que haverá que pôr em marcha, mas desenha também o horizonte da soberania e o exercício da autodeterminaçom como um eixo que guie o conjunto do trabalho do BNG no parlamento e no governo.
Neste sentido, cumpre utilizarmos todas as ferramentas da instituiçom autonómica para criar consciência nacional. O feito de que esta consciência esteja no nosso país numha fase embrionária ou que nom assuma sempre formas políticas fai que o soberanismo nom seja ainda hegemónico. Porém, cremos que esta evidência nom deve servir como escusa para nom avançar, mas precisamente para todo o contrário. A nossa açom no governo autonómico nom deve servir para legitimar um marco no que nom acreditamos, mas para evidenciar as suas carências (sem renunciar por isso a utilizá-lo até o máximo possível), agudizando sempre o conflito nacional.
Em relaçom a isto, a gestom das espectativas será determinante nesse novo cenário. Cumpre ter presente que nom estamos ante umhas eleiçons nacionais dignas de tal nome, mas ante as eleiçons dumha instituiçom autonómica derivada do regime espanhol do 78, com todas as limitaçons que isso impom. Isto implica que, sendo certo que há diversos avances que se podem fazer desde essas instituiçons, também o é que muitos dos problemas que sofre o nosso povo nom tenhem soluçom real sem superar os limites que impom este marco. Evidenciar esses limites será também a tarefa dum governo autonómico liderado polo nacionalismo: explicando até onde se pode chegar e até onde nom, sem que isso implique criar frustraçom na sociedade mas o contrário, utilizá-lo como pedagogia soberanista que ajude a acumular forças em prol da ruptura democrática, um processo constituínte e o objectivo da República Galega.
Devemos ser conscientes de que as transformaçons, se som reais, vam encontrar resistências e duras campanhas de criminalizaçom por parte dos nossos inimigos. Em quanto toquemos os interesses da minoria que hoje se lucra com um governo como o atual, os ataques van ser proporcionais à profundidade das mudanças que emprendamos. Por isso cumpre impulsar mecanismos de defesa a todos os níveis, mas especialmente a nível social e de mobilizaçom popular para garantir que os avances sejam acompanhados e as ameaças de retrocesso derrotadas. Para isso cumpre ajudar a reforçar os sectores sociais máis mobilizados, fazendo-os parte da construçom das políticas públicas que precisam ser postas en andamento.
Outra das limitaçons mais evidentes à hora de desenvolver políticas transformadoras será o lastre que suporá o necessário apoio do PSOE. Ainda que nom sempre a prática foi coerente com isto, a caracterizaçom que o nacionalismo galego fijo sempre desta força é correta: o PSOE é um dos principais piares deste regime e deste sistema, a o seu papel é o de garantir que nom haja mudanças de fundo que vaiam além do cosmético.
Cumpre também analisarmos a contradiçom do contexto que vivemos, que apresenta tanto oportunidades como riscos que nom podemos ignorar: o momento no que o soberanismo galego conseguiu maior representaçom institucional a nível autonómico deu-se numha situaçom geral de desmobilizaçom social e perda de músculo organizativo do movimento popular, com algumhas louváveis excepçons. A possível chegada ao governo da Junta dará-se também nesse contexto geral, polo que umha das prioridades deve ser contribuir, sem tutelagens, à criaçom de tecido social em todos os ámbitos e à organizaçom do nosso povo, garantia fundamental da defesa e o êxito das transformaçons às que aspiramos.
Em relaçom ao anterior, un governo do BNG deverá ver os movimentos sociais transformadores como forças aliadas e nom inimigas, ainda que estas mantenham o seu carácter crítico. De feito, é importante que desde os coletivos sociais a relaçom seja de exigência e de crítica leal e construtiva, empurrando sempre para o cumprimento do programa transformador que recolhe boa parte das suas demandas. Um governo liderado pola esquerda soberanista nom deve esperar nem promover umha sociedade passiva ou acrítica, mas todo o contrário, e é desde aí que será fundamental tecer todas as cumplicidades possíveis. A pesar das suas limitaçons e contradiçons (que nom pretendemos ocultar, mas superar), o BNG é hoje de forma indiscutível -mais que nunca na sua história, de feito- a força de referência para o conjunto do nacionalismo e o independentismo galego. A nossa aposta é por seguir a reforçar essa ferramenta unitária, com as ferramentas que o frentismo oferece para construir em comum: projetos políticos diferentes que luitam por objectivos partilhados. É por isso que acreditamos em que, junto aos diversos espaços de intervençom social nos que trabalhamos, para quem nos reconhecemos como comunistas e independentistas segue a ser umha tarefa de primeira orde seguirmos a construir, dar debates e defender as nossas posiçons no seio do BNG. Todas as forças que contribuam nesta tarefa ajudarám a que destas eleiçons e da desejada liderança do soberanismo no governo autonómico se abram oportunidades nom só para melhorar um pouco as nossas vidas, mas para avançar cara à plena emancipaçom colectiva do nosso povo e da nossa classe.