Mulheres e Afeganistão

A situação das mulheres, e das suas crianças, tem sido historicamente motivo de instrumentalização nos conflitos bélicos por parte do imperialismo dos EUA e dos paises ocidentais. Artigo da nosa compañeira Silvia Pardo Galdo.

Mulheres…Ocupadas, devastadas, danificadas polas guerras desde que o mundo é mundo. Em cada conflito. Em cada luta. Em Afeganistão. Em Galiza também.

Temos essa pretensiosa e ocidental mirada sobre o que ocorre a milheiros de quilómetros da nossa casa. Julgamos. Salvamos e condenamos sem entender que as pessoas que habitam os territórios “de seu” são as pessoas que devem decidir sobre os seus destinos. Em Afeganistão. Em Galiza também.

A situação das mulheres, e das suas crianças, tem sido historicamente motivo de instrumentalização nos conflitos bélicos por parte do imperialismo dos EUA e dos paises ocidentais.

A suposta preocupação polos dereitos das mulheres é visado para justificar a interferência e a dominação colonial. O capital e o imperialismo tecem redes e atopam aliadas numa sociedade ocidental criada na ideia da missão civilizatória das que não são iguais a nós. Submetendo também a nossa capacidade emancipatória, como se ocidente não fora “per se” um crisol de diversidade…

Em Afeganistão mulheres e crianças têm sido objetivo vulnerável desde há décadas. Mas as organizações feministas afegãs, sim, existem, falam de que a violência sexual, o estupro e os assassinatos de mulheres tornaram-se comuns depois que os jihadistas, apoiados e financiados pelos EUA chegaram ao controlo do país em 1992 após a derrota das forças soviéticas.

E isto não mudou coa ocupação do território por parte do EUA.

No ano 2019 Samia Walid da RAWA, Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão, explicava a importância para as mulheres afegãs e da sociedade afegã em geral de afastar do governo os elementos fundamentalistas islâmicos e outras facções promovidas polos EUA.

Naquela entrevista ela dizia: “Para as mulheres afegãs, a paz só pode ser alcançada pela justiça e a justiça só pode ser alcançada libertando o Afeganistão da ocupação estrangeira e do fundamentalismo islâmico. A remoção desses traidores e assassinos do poder, e sua perseguição e punição, é a justiça que as mulheresestão buscando pela paz, prosperidade e democracia real. E isso só é possível através de uma luta organizada de mulheres conscientes

A comunidade internacional ficou anestesiada e carente de opinião ante a massacre da população afegã. Os EUA aniquilavam no nome da ordem internacional mentres anos atrás exalçavam a “gloriosa luta talibã”.

Pero no Afeganistão há vozes. Emudecidas polo patriarcado, polo capitalismo, sim. Interessadamente emudecidas a favor da oligarquia do país que recorre a tutelas e submetementos e que é feroz no enriquecimento próprio, sim. Mas são vozes dissidentes que falam da importância de se organizar. Que falam da urgência das mulheres afegãs serem de facto as interlocutoras válidas para enfrontar a revolução no Afeganistão. Vozes que chamam a uma revolução popular com identidade própria! Vozes que precisam de altofalante.

Mentres na Europa julgamos desde o privilégio a situação das mulheres em Afeganistão. Sem conhecimento nem objectividade. Na Europa dos territórios ocupados. Na Europa que fecha as portas as refugiadas. Na Europa do genocídio machista. Na Europa racista. Na Europa sem oportunidades.

A vida das mulheres vale nada baixo uma ocupação imperialista dos EUA, baixo a xaria talibã ou baixo a repressão da Espanha.

São tantos os conflitos próprios e alheios que enfrontamos a diário que desde uma mirada de solidariedade internacionalista temos obriga de ser resistência ante o discurso que re-vitimiza às mulheres afegãs. Devemos ser cautelosas ante as interferências que o capitalismo sementa em territórios ocupados e colonizados como o de Afeganistão, criando organizações supostamente assépticas que na prática espalham o discurso pro ianqui e que legitimam a tutela colonizadora dos EUA como única saída da povoação afegã contra a dominação talibã. Ou que incluso artilham discursos onde se legitima, camufla e promove a certas elites afegãs, de mulheres também, a sentar-se a negociar com senhores da guerra como Gulbuddin Hekmatyar o “carniceiro de Cabul”. Estratégias do imperialismo para no nome dos dereitos de todas manter os privilégios duns poucos.

E que nos queda por fazer desde o socialismo independentista e feminista?

Questionar. Fazer revisão das fontes que chegam a nós. Entender que não podemos legitimar a ocupação de territórios em nome do ocidentalismo.Tecer redes coas organizações que estão a reagir em terreo desde a dissidência e desde o internacionalismo. Repensar a nossa agenda política para superar o pensamento colonial por que sem a superação das desigualdades coloniais não há superação das desigualdades de género. Entender que as mulheres que habitam territórios ocupados são soberanas e totalmente qualificadas para decidir sobre o seu futuro e que a nossa responsabilidade é desde o cotiá, desde o dia a dia. Ser semente de revolução contra o capital e contra o privilégio ocidental que aniquila não só as mulheres e crianças no Afeganistão senão também a toda aquela pessoa que questiona o sistema económico-social no que vivemos. Que aniquila a todas aquelas que sinalamos ao que nos explora, ao que nos quere dissolver! Que aniquila a dissidência e a solidariedade entre os povos.

Em Afeganistão. Em Galiza também.


Silvia Pardo Galdo.

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